“Não aplico medidas sustentáveis na minha habitação ou no meu projeto de arquitetura porque não sei o que são e não percebo porque são importantes atualmente”.
Esta é uma afirmação que ouço muitas vezes de pessoas que conheço e também de clientes que têm receio de investir numa estratégia sustentável porque não sabem realmente do que estamos a falar. Neste momento, existe muita desinformação sobre o tema da sustentabilidade e, por isso, escrevo este artigo para que se perceba um pouco, em termos bastante simples, o que é o básico, remontando às origens do conceito, indo mesmo para além da arquitetura, para explicar-vos porque é que é necessário tomar medidas sustentáveis e quais são os problemas que estamos e vamos continuar a enfrentar se não mudarmos de direção.
A vida na Terra existe graças a uma combinação de três fatores:
A distância certa do Sol, a composição química da atmosfera e a presença do ciclo da água. A atmosfera, em particular, proporciona ao nosso planeta um clima adequado à vida, graças ao chamado efeito de estufa natural. Quando os raios solares atingem a superfície da Terra, são apenas parcialmente absorvidos, enquanto alguns são refletidos para o exterior; na ausência de uma atmosfera, seriam dispersos no espaço, em vez disso, são em grande parte retidos e depois redirecionados para a Terra por determinados gases presentes na atmosfera (gases com efeito de estufa, principalmente dióxido de carbono e metano, mas também vapor de água e outros).
O resultado é uma quantidade adicional de calor que se junta à que provém da luz solar diretamente absorvida. Um acréscimo significativo: sem o efeito de estufa natural, a temperatura média da Terra seria de -18 graus Celsius em vez de cerca de +15.
Causas das alterações climáticas
Se o efeito de estufa é um fenómeno tão benéfico, por que razão estamos tão preocupados com as alterações climáticas?
As alterações climáticas sempre existiram, ao longo da história do planeta, mas o aquecimento climático a que assistimos há cerca de 150 anos é anómalo porque é provocado pelo homem e pelas suas atividades. É o chamado efeito de estufa antrópico e acresce ao efeito de estufa natural.
Com a Revolução Industrial, o homem despejou subitamente na atmosfera milhões de toneladas de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa, elevando a quantidade de CO2 presente na atmosfera para o dobro dos valores mínimos registados ao longo dos anos.
Consequências das alterações climáticas
Em comparação com os níveis pré-industriais, a temperatura média do planeta aumentou 0,98 °C e a tendência observada desde o ano 2000 sugere que, se não forem tomadas medidas, poderá atingir +1,5 °C entre 2030 e 2050.
[Agora vocês podem pensar: “1,5 °C é um valor muito baixinho que não gera algum problema…”]
Nada poderia estar mais errado, 1,5 °C é suficiente para provocar a fusão dos glaciares, a subida do nível dos mares, inundações muito perigosas, incêndios, secas, ciclones e cheias que também ocorrem em alturas do ano atípicas e são cada vez mais devastadoras. Alias, nos já estamos a começar a ver estes fenómenos.
Definir tudo isto com o termo alterações climáticas é correto, mas não dá uma ideia suficiente do problema. Temos de começar a falar de crise climática porque o clima sempre mudou, mas não tão rapidamente e não com uma infraestrutura tão rígida e complexa como são as cidades.
As soluções para as alterações climáticas
As atividades humanas afetam cada vez mais o clima e a temperatura da Terra através da queima de combustíveis fósseis e da desflorestação. E’ importante fazer clareza sobre os dois conceitos:
Queima de combustíveis fósseis
Os combustíveis fósseis são fontes de energia que podem ser encontradas na forma de petróleo, carvão e gás. Estes contêm altas percentagens de carbono e a energia está contida nas suas ligações químicas.
Os combustíveis fósseis são formados a partir de restos de organismos pré-históricos que passaram por um processo de decomposição natural sob condições específicas. Ao longo de milhões de anos, estes restos foram submetidos a intenso calor e pressão nas profundezas da crosta terrestre, resultando na transformação da sua matéria orgânica em hidrocarbonetos.
Como sabemos, a utilização de combustíveis fósseis é a base de qualquer ação produtiva: são utilizados como matéria-prima para a indústria, em particular a indústria química, como combustíveis para a produção de eletricidade e sobretudo como combustível para meios de transporte.
A queima de combustíveis fósseis gera muitos problemas e liberta gases com efeito de estufa na atmosfera, contribuindo para as alterações climáticas e o aquecimento global. Além disso, a extração e perfuração dos combustíveis fósseis podem poluir o ar e as águas e, portanto, danificar os ecossistemas locais.
Não sendo fontes de energia renováveis, são recursos limitados, que se podem esgotar, razão pela qual poderão tornar-se cada vez mais caros, porque serão cada vez mais escassos.
Além de ser perigosos e inflamáveis, os combustíveis fosseis são também fontes de conflitos geopolíticos.
Desflorestação
A produção animal é responsável por 80% da desflorestação. Sabem porquê?
Porque os agricultores e as grandes empresas pecuárias e agroindustriais, utilizam o método de “corte e queima” para limpar a terra, não só da vegetação, mas também das populações locais e indígenas. As árvores são cortadas em julho e agosto, deixadas no campo para perderem a humidade e depois queimadas, com a ideia de que as cinzas podem fertilizar o solo. Quando a estação das chuvas regressa, a humidade do solo desnudado favorece o desenvolvimento de vegetação rasteira para os animais.
Portanto, o termo “desflorestação” designa a destruição das florestas para que a terra possa ser utilizada para outros usos, como agricultura industrial, urbanização e sobre-exploração dos recursos lenhosos.
Segundo a FAO, a agricultura industrial está na origem de pelo menos 50% da desflorestação mundial, principalmente para a produção de óleo de palma e de soja, enquanto o pastoreio é responsável por quase 40% da desflorestação mundial.
O desenvolvimento urbano e de infraestruturas, incluindo a construção e expansão de estradas, é a terceira maior causa de desflorestação a nível mundial. Representa pouco mais de 6% do total. No entanto, é a principal causa de desflorestação na Europa.
A perda de florestas é prejudicial ao clima, pois as florestas desempenham um papel importante no fornecimento de ar limpo, na regulação do ciclo da água, na captura de CO2, na prevenção da perda de biodiversidade e da erosão do solo.
A grande parte das florestas tropicais convertidas para a agricultura são utilizadas para produzir bens comercializados globalmente. O consumo da UE é responsável por cerca de 10% da desflorestação mundial.
Os principais produtos importados para a UE provenientes de terras desmatadas são:
- Óleo de Palma 34%
- Soja 32,8%
- Madeira 8,6%
- Cacau 7,5%
- Café 7%
- Borracha 3,4%
- Milho 1,6%
A desflorestação tem impacto nos objetivos ambientais da UE, como o combate às alterações climáticas e a perda de biodiversidade, mas também nos direitos humanos, na paz e na segurança. É por esta razão que a UE está a trabalhar para combater o desaparecimento de florestas em todo o mundo.
Em abril de 2023, o Parlamento aprovou novas regras que exigem que as empresas verifiquem se os produtos vendidos no mercado europeu não contribuíram para a desflorestação ou degradação florestal em qualquer parte do mundo.
Aplica-se a produtos que incluem: óleo de palma, soja, cacau, café, gado e madeira, bem como produtos derivados, como carne bovina, couro, papel impresso, móveis, cosméticos e chocolate. As empresas também terão de verificar se estes produtos cumprem as normas de direitos humanos e garantir que os direitos das povoações indígenas sejam respeitados.
Se as empresas não realizarem os controlos, poderão ser multadas até 4% do seu volume de negócios anual total na UE.
Estas duas práticas mencionadas, a queima dos combustíveis fósseis e a desflorestação, acrescentam enormes quantidades de gases com efeito de estufa aos que estão naturalmente presentes na atmosfera, aumentando o aquecimento global. O mais prejudicial é o consumo de carvão, petróleo e gás, que é responsável pela maior parte das emissões de gases com efeito de estufa.
Em 2019, de acordo com a Perspectiva Energética Global da McKinsey, os combustíveis fósseis foram responsáveis por 83% do total das emissões de CO2 e a produção de eletricidade, apenas através do carvão, foi responsável por 36%. O carvão é a principal fonte de emissões na história da humanidade; O petróleo é a segunda maior fonte de emissões em geral e no terceiro lugar encontramos a desflorestação.
O que fazer para compensar estes efeitos?
Em dezembro de 2015, foi assinado o Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas, que proporcionou um quadro credível para alcançar a descarbonização, com objetivos de longo prazo. Os governos signatários comprometeram-se a limitar o aumento da temperatura abaixo de 2° Celsius acima dos níveis pré-industriais, com esforços para permanecer dentro de 1,5°, para atingir o pico de emissões o mais rapidamente possível e alcançar a neutralidade de carbono em meados do século II.
O caminho a seguir para a descarbonização é claro e chama-se transição energética: a transição de um mix energético centrado em combustíveis fósseis para outro com emissões baixas ou nulas de carbono, baseado em fontes renováveis.
Trata-se de substituir tecnologias baseadas em combustíveis fósseis em todos os sectores – desde a habitação aos transportes, passando pelos transportes de longa distância, até à indústria pesada – por aquelas que utilizam eletricidade produzida a partir de fontes renováveis, obtendo a redução das emissões de gases com efeito de estufa, mas também da poluição atmosférica, especialmente nas nossas cidades.
Conclusões
As alterações climáticas não param e não esperam por ninguém. Precisamos de uma forte mudança cultural, e de paradigma para traduzir em realidade aquilo com que todos agora concordam.
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